18 de novembro de 2010

Trilho de Papel: Infância e Juventude

Agora que me preparo para escrever a biografia de Carlos Frederico Lecor, não posso deixar de escrever aqui algumas linhas ao caro leitor acerca da verdades que não possuo ainda. A bem dizer, duvido muito que as consiga ainda descobrir, mas tentarei.

Quero-me debruçar, nesta entrada, acerca do trilho de papel nesses arquivos e que dizem respeito à infância e juventude do menino Carlos Frederico, até ao momento em que o perco.

Louis Pierre Lecor, o pai

Acerca do pai de Carlos, julgo que até terei bastante sorte em ter dados. Terá nascido em 1729, na paróquia de Saint Eustache (1er Arrondissement, em Paris). Coloco-o em Portugal apenas porque traduziu uma obra de pedagogia em 1746 (que se encontra na Biblioteca Nacional). Em 25.6.1759, casa-se, em Alfama, com Joana Francisco de Castro, mas infelizmente Louis enviúva logo 3 meses depois, a 25 de Setembro.
A 3.2.1761, Louis casa com Quitéria Luísa Marina Krusse, em Santos-o-Velho, dando início à história que eu busco.

A Família Lecor em Lisboa

Fruto do casamento de Louis e Quitéria, nasce, primeiro, o nosso herói Carlos Frederico, a 6.10.1764. No assento de baptismo, de 20 desse mesmo mês, a Rua de Pé de Ferro é indicada como a residência da família.
Dois anos depois, a 7.10.1766, nasce João Pedro. Por esta altura, a família reside na Rua de S. João da Mata. Este irmão será em 1815 o 1.º Ajudante d'Ordens de Carlos na Divisão de Voluntários que parte para o Brasil e tem a dúbia honra de estar a comandar uma formação em parada, aquando um dos ataques de epilepsia do Príncipe D. Pedro, futuro Imperador do Brasil.

Ora, em 1768, o trilho de papel começa a ficar esbatido e tortuoso. A 6.9.1768, nasce António Pedro Lecor, sendo baptizado na paróquia de Alcântara. No entanto, a residência da família é ainda Santos-o-Velho. Não faço ideia porque terão baptizado o 3.º filho numa outra paróquia, mais ainda porque a paróquia de Santos nunca cessou o seu labor.

Por esta altura, perco o trilho de papel. Os dois filhos mais novos de Louis e Quitéria - Jorge Frederico e Maria Leocádia Leonor - não os consigo encontrar. Nem em Santos, nem em Alcântara, nem na Lapa, S. Paulo, Mártires, etc. Só sei que nasceram e foram baptizados em Lisboa, porque tal é indicado nos seus casamentos, mas o trilho ficará ainda por descobrir.

A Família em Faro

Só recupero o trilho de papel exactamente no dia 7 de Janeiro de 1781, pois é nesse dia que Carlos Frederico, com pouco mais de dezasseis anos, assiste ao baptismo de Carlos Fernandes, tocando-o sob procuração da madrinha (sua tia), Basília Máxima Benedita Krusse, na Sé de Faro.

Como em todas as situações que em se recupera um trilho de papel, uma década depois, só se pode adivinhar, palpitar. Ainda assim, só perguntas permanecem e poucas respostas.

Algumas das pessoas que conviveram com os Lecor em Lisboa, aparecem em Faro antes de 1781, dando alguma ajuda.
A madrinha (e tia) de Carlos Frederico, por exemplo, Vitória Berarda Marciana Krusse, casada com o Dr. Salvador Pereira da Costa, baptiza a filha Catarina em Faro, em 25.11.1772.
Em 13.10.1778, é baptizada Clara, filha de Carlos Frederico Krusse (padrinho e tio de Carlos) e Teresa do Nascimento.

Mas quando, então, passaram a Faro os Lecor? E porque razão o fizeram?
A primeira questão pode ainda ter resposta; à segunda só se pode conjecturar quando se responder à primeira.

Concluo, pedindo desde já perdão ao caro Leitor pela pertinência duvidosa desta entrada no blogue, mas esperando cativar alguma empatia para esta minha busca de Lecor.

5 comentários:

Moisés Gaudêncio disse...

Caro amigo, espero que a biografia do nosso «herói» esteja para breve. Decerto que vai ser um trabalho com muita qualidade e que irá enriquecer o nosso conhecimento sobre este período da nossa história através da vida de um dos protagonistas.

Votos de bom trabalho!

Moisés Gaudêncio

Jorge Quinta-Nova disse...

Caro Moisés,
Ainda hoje amarrei duas partes da vida dele. Descobri que ele foi promovido a capitão da 8.ª Companhia de Infantaria de Legião de Tropas Ligeiras, o que me dá informação útil face ao tipo de relação que ele tinha com o Alorna.

Falta-me é aquele espaço outubro/novembro de 1808 de que falámos há uns tempos.

Quanto à biografia, tenho um deadline para escrever o 1.º draft - o final deste ano. Vamos a ver se o cumpro.

Jorge

Moisés Gaudêncio disse...

Caro amigo, ao reler a biografia de Costigan sobre Sir Robert Wilson (Sir Robert Wilson: A Soldier of Fortune in the Napoleonic Wars), e embora Lecor nunca seja referido, deparei-me com um excerto de uma carta que Wilson escreveu para Canning (em 7 de Outubro de 1808) queixando-se que as dificuldades na organização da Leal legião Lusitana tinham aumentado «by the arrival of a most rebellious set of officers in the superior ranks from Plymouth, where they had been spoilt by British generosity. I have however combated successful and with the loss of a Brevet Lt. Col. and a Brevet Major and four Lieuts. (...)».
Será que Lecor é um destes oficiais? Talvez seja uma pista...
Se achar útil posso enviar-lhe cópia das páginas relevantes.

O acesso ao diário e correspondência inédita de Wilson seria uma ajuda tremenda para perceber esse periodo.

Moisés

Jorge Quinta-Nova disse...

Se ele se refere a Lecor, o Wilson enganou-se, pois o Lecor é Tenente-Coronel efectivo desde 1805, quando foi nomeado Ajudante d'Ordens de Alorna para o Brasil (para onde acabaram por não ir). Além disso, Lecor é suposto ter vindo com ele para o Porto.
Se me pudesse enviar essas páginas seria bastante interessante, pois ao nível de uma força de 2 batalhões, um Tenente-Coronel e um Major, é coisa enorme a tentar descobrir quem são eles.
Eu creio que o Lecor terá sido atraído à influência da Regência restabelecida (Forjaz, particularmente), decerto muito por causa dos tumultos do Porto e não ter quaisquer raízes no Norte de Portugal, nem familiares nem militares.

Um abraço,
Jorge

Moisés Gaudêncio disse...

Caro amigo, acabei de enviar-lhe as páginas de Costigan para o seu endereço e-mail que guardei à uns tempos atrás. Se não receber ou houver problemas diga-me.

Cumprimentos

Moisés