11 de setembro de 2008

As fontes biográficas de Lecor

Como já tive oportunidade de referir, há muito pouca informação biográfica acerca de Carlos Frederico Lecor. As fontes são bastante escassas pelo período de 172 anos desde o falecimento do nosso Marechal.
Assim, torna-se de pouca dificuldade falar um pouco disso, adicionando uma pequena análise crítica.

I Período

ATUALIZAÇÃO [19/4/2013]: Encontrei uma fonte biográfica, num dicionário francês, editado em 1836 - ainda, portanto, em vida de Carlos Frederico Lecor. Este serve de base a Batista Lopes. Pode ler mais em http://lecor.blogspot.pt/2009/02/apos-algum-tempo-de-recesso-volto-ao.html .


A fonte biográfica de Carlos Frederico Lecor (CFL) mais antiga encontra-se na Corografia ou Memória Económica, Estadística e Topografica do Reino do Algarve, de João Baptista da Silva Lopes. Publicada em 1841 pela Academia de Ciências de Lisboa, a obra estava escrita em 1837 e foi apresentada dois anos depois nas actas da Academia.

A entrada respectiva indica que CFL nasceu em Faro em 11.9.1764, e que se instruiu em línguas na Holanda e na Inglaterra. Destacamento para a Bahia. Capitão na LTL.

Tendo acesso a fontes primárias, e o próprio formato da Corografia, não existem muitas discrepâncias. A mais significativa será porventura Lecor ter estudado línguas em Inglaterra, pois Lord Wellington adverte Hill, em 1809, que deveria comunicar com Lecor em francês, dado que o então coronel português não falava inglês.

Logo em 1841, através da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil – Tomo III, em comunicação de 12.8.1841 o brasileiro Dr. Thomas José Pinto C[S]erqueira corrige alguns pontos menores, e indica datas para o período brasileiro, nomeadamente data da reforma e promoção a Marechal do Exército (e não do império, como refere Silva Lopes).

Há todo um conjunto de referências biográficas de CFL tendo por base a Corografia do Algarve, nacionais e estrangeiras. Todo o esforço biográfico sobre Lecor no século XIX teve por base Silva Lopes, e o entendimento que Lecor terá nascido em Faro, quando nasceu, de facto, em Lisboa - assim como, aliás, todos os seus 4 irmãos.

II Período

Em 1944, mais de um século após a morte de Lecor, o General Teixeira Botelho, nos seus Subsídios para a História da Artilharia Portuguesa apresenta uma nota biográfica substancialmente diferente, na qual se vai basear quase inteiramente o General Paulo de Queiroz Duarte, quarenta anos depois, na sua obra Lecor e a Cisplatina.

As novidades que este autor apresenta estão fortemente baseadas na leitura dos Arquivos do (extinto) Conselho da Guerra, compilados por Claúdio de Chaby e por Madureira dos Santos. Estas sugerem que Lecor iniciou a sua carreira como Soldado Pé-de-Castelo (artilharia de guarnição) em Tavira, como indica um decreto promovendo Lecor (ou Licor, como está grafado aí) ao posto de Sargento.

Teixeira Botelho inicia a sua mini-biografia de Lecor com uma intrigante frase - "(...) foi, parece, natural de Faro (...)". Alguma informação que não consegui apurar, parece fazer este autor duvidar da antiquíssima informação que Lecor era natural de Faro. Será de supor que alguém, algures, terá tido a noção que Lecor não nasceu em Faro, mas sim em Lisboa. Este pequeníssimo pormenor ficará na penumbra, talvez para sempre. [8SET2014: não, nem por isso, Carlos Frederico Lecor nasceu a 6 de outubro de 1764, na paróquia de Santos-o-Velho, em Lisboa: Veja a postagem aqui.

Pensamentos Finais

É de notar, no entanto, que nenhum autor alguma vez determinou com exactidão a data e local de nascimento de Lecor, o que numa pessoa que viveu na segunda metade do século XVIII parece algo fora do normal, dado a existência bastante adequada de livros notariais. As datas normalmente apontadas são as de 11, ou de Setembro ou de Novembro, dos anos de 1764 ou de 1767. Cada cabeça, sua sentença.

Actualização [19/4/2013]: De facto, como indiquei em cima, Carlos Frederico Lecor nasceu a 6/10/1764, e foi batizado a 20/10 na Igreja Paroquial de Santos-o-Velho, em Lisboa ocidental. Leia também http://lecor.blogspot.pt/2008/02/afinal-lecor-no-farense.html .

Ora, àparte dificuldades de pesquisa, naturais, a minha questão é outra: Porque razão Carlos Frederico Lecor, o oficial combatente mais graduado a sair do final da Guerra Peninsular e comandante da expedicionária Divisão dos Voluntários Reais, é vítima de tão nebulosa biografia, de tantas desinformações e mal entendidos quantos os que acabo de referir (mais não seja pela quase total falta de esforços biográficos)?

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