12 de maio de 2008

Um dia a lembrar...

No final da Guerra Peninsular o Exército Português de Operações retornou a Portugal, tendo cá chegado em finais de Agosto de 1814 (provavelmente no dia 25). Uma testemunha, D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto, 5.º Marquês de Fronteira, então com 12 anos de idade, deixou escrito o seguinte:

"A entrada dos corpos foi brilhantissima. Recordo-me de vêr entrar os Regimentos de Cavallaria n.º 1 e n.º 4, commandado este pelo bravo Conde de Penafiel que, apesar da sua grande fortuna e independencia, fez todas as campanhas da Guerra peninsular, os Regimentos de Infanteria n.ºs 1, 4, 13 e 16, sendo o 13 commandado pelo jovem João Carlos de Saldanha, hoje Duque de Saldanha, que apenas tinha vinte e quatro annos, e um numeroso parque de artilharia. Á frente d'esta brilhante columna vinha o General Lecor seguido d'um bello Estado Maior e de muitos officiaes superiores que, tendo feito a Guerra peninsular, mas não estando nos seus corpos, se agregaram ao Estado Maior para gozarem, e com justiça, das honras d'aquelle dia.
Foi por esta occasião que vi, pela primeira vez, o General Luiz do Rego que tanta gloria adquiriu durante a guerra. Estava na força da edade e tinha o ar marcial que sempre o caracterizou. Foi saudado pelos habitantes de Lisboa com grande enthusiasmo.
Os corpos mal tinham espaço para desfilar por secções, porque o povo era tanto que, a todos os momentos, interrompia a marcha. Vi os porta-machados do Regimento 4 e uma parte da companhia de granadeiros, levados em triumpho nos braços do povo, quando passavam pela frente do palacio onde estavam os Governadores do Reino, numa das varandas".

fonte: Memórias do Marquês de Fronteira e d'Alorna, D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto (v. 1), Coimbra: Imprensa da Universidade, 1926 (1861) - pp.131-132.

Noutro sítio, aqui, levantado pelo Prof. Mendo Castro Henriques, pode-se ler também o testemunho de Manuel José Maria da Costa e Sá, do qual destaco duas pequenas histórias deste ajuntamento, ao mesmo tempo as maiores do mundo para quem as viveu e para quem as lê hoje:

"Uma Velha de maior idade, dirige-se ao Rossio, ali pergunta por dois Filhos, que parece tinha no Regimento N.° l de Infantaria, sabe que são ambos mortos, e com uma energia verdadeiramente expressiva levanta as mãos aos Céus, “Bendito sejais DEOS. Pai meu, (diz), que mos concedeste para acabarem no seu Serviço, e no do meu Príncipe”: e mudança alguma mais se lhe observa: a outra, um Soldado que se apresenta, ao passar o Regimento N.° l de Infantaria, sem uma perna perdida em combate; "este" diz hum Indivíduo dos circunstantes, "mostra ter encarado os Inimigos", “Sim Senhor..”, responde ele, “…mas fiquei impossibilitado de o poder encarar muitas vezes, pois perdi esta perna no principio da Campanha, e fiquei inútil, e não pude colher bastante gloria, paciência”, dizia lacrimejando, “mas ainda encostado a um muro, como tenho os braços sãos, posso mostrar que sou Português” (...)".

Sem comentários: